A velha e as moças.

"Deixo tudo assim, não me importo em ver a verdade em mim, ouço o que convém, eu gosto é do gosto..."  (O velho e o moço - Los hermanos ) 

O post de hoje não tem moda, nem decoração, vestimenta hoje, só da alma.

 

Hoje eu conheci uma velha que oscilava o riso e o choro num movimento jamais visto, era um ciclo de menos de 30 segundos que se repetia e me comovia. O riso era de chorar e o choro era de doer.

Não parei de pensar nessa velha, o dia inteiro e quando eu falo "velha" eu estou elogiando profundamente a senhora de 85 anos que sofre do mal de Alzheimer e me fez perder o eixo, sair da linha. Passei o dia oscilando o coração, no movimento da velha, no dinamismo da vida, no poder da razão e na profundidade da emoção.

O nosso sorriso não é o mesmo. Estamos incessantemente na busca do melhor enquanto esquecemos do bom, que, já está com a gente. Não basta correr atrás do futuro, a gente quer correr atrás dele com o melhor tênis, com o mais caro, de tecnologia extreme-power-ultra. Há quem queira correr atrás do futuro de salto alto, porque quanto mais glamourosa for a chegada, melhor. Mais holofotes, mais estrelismo, mais tudo. É tudo tão tão tão que a gente esquece o motivo da corrida, na ludibriação da chegada. A gente só quer chegar.

E o sorriso? a gente guarda ele pra chegada, porque sorrir no caminho é contar vitória antecipada,  a gente quer viver em paz com os orixás, pra não correr o risco de logo depois do sorriso vir o choro, porque o choro só pode vir acompanhado do sorriso, e de preferência, na reta final. A gente não quer sorrir, pra não correr o risco de chorar.

Todo mundo precisa contar, postar, comentar, dá a entender que é feliz, vezes a mil sem ser, porque a felicidade virou ditadura, e os dias reservados para a tristeza nos fazem anti-sociais, ranzizos, rabugentos e cheias das TPM'S. A gente, tem gente, que desabafa nas redes e com "likes" dosam a quantidade de razão. É muita gente com receio do não, com necessidade de aceitação.

O choro da gente, o choro de verdade, de sofrimento é trancafiado a sete chaves. É o nosso momento eu e eu, é quando mainha chega e dá um colinho sem perguntar o que, nem pra que e dizer que tudo vai ficar bem, que seremos ,independente do que o mundo pensa, a coisa mais importante do mundo para elas. Choro de verdade tem cheiro de mainha, tem sabor salgadinho de lágrima junto ao melhor cheiro do mundo, cheiro de mãe.

A velha do meu dia, veio para mudar as concepções, trouxe o meu olhar de estrangeiro a tona, me deu de presente o poder da ressignificação.

O choro da velha é o mais sincero, é o choro de sofrimento, de uma doença horrível e de uma cama suja de hospital, da comida sem sabor, da ausência de carinho, da falta do colinho da mãe e da presença dos filhos.

O riso da velha era o mais bonito, o mais sincero, o que vinha da alma. Porque a velha tinha o "poder" de esquecer o sofrimento para sorrir de verdade, o riso era frouxo, descompromissado. Para a velha sorrir bastava ter graça, bastava o momento, bastava o sorriso amarelo que vinha do rosto das moças que não sabiam nem como sorrir.

 

Um feriado "de velha" para todos vocês.

"É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz do sol, no coração."

 E se Vinicius de Moraes falou, tá falado e sacramentado pela velha da minha vida.

 

Um beijo minhas queridas e queridos ;*